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Mulheres no Grafite:“Um símbolo de resistência”,é o que dizem as grafiteiras Big Bacon e Marte Odara

Cada vez mais mulheres vêm crescendo na arte urbana e mostrando seus talentos



Mulheres no Grafite. Fotos: Arquivo Pessoal/Reprodução Instagram Edição: Vanessa Linhares

Por Vanessa Linhares


O grafite é uma manifestação artística caracterizado pela produção de desenhos em espaços públicos, como ruas, avenidas, edifícios, etc. A ideia de desenhar nas paredes desses espaços e deixa-las mais coloridas surgiu nos anos 1970, em Nova York, e hoje é utilizada como forma de crítica social, de expressar seus pensamentos e, além disso, é uma maneira de intervenção direta na cidade, democratizando assim, os espaços públicos e a arte. Há algumas décadas, quando se pensava em grafite, logo as pessoas imaginavam um homem com uma lata de spray na mão, mas hoje, cada vez mais mulheres têm ganhado espaço e se destacado nesse meio, mostrando a todos que a mulher pode estar onde ela quer estar.

Big Bacon realizando um de seus trabalhos. Foto: Arquivo Pessoal/Big Bacon

Greyce Kelly do Nascimento, tem 20 anos e é mais conhecida como Big Bacon. Começou no grafite aos 15 anos de idade, em uma oficina cultural onde mora, em Mauá, São Paulo. Enquanto desenvolvia sua técnica, fazia suas pinturas por hobbie, até montar seu portfólio e começar a grafitar profissionalmente. Para a grafiteira, a mulher no grafite é acima de tudo, um símbolo de resistência. “Além da técnica, além das cores, do desenho, a gente tem uma mensagem que quer passar com o nosso desenho, então acredito que mulheres no grafite, principalmente, é um símbolo de resistência”. Sempre evidenciando a beleza da mulher negra e sua cultura em seus trabalhos, Big Bacon conta que “as pessoas só têm referências a grafiteiros homens. E isso é muito chato porque tem mulheres absurdas, que começaram até antes dos caras ou na mesma época e não tem o mesmo reconhecimento”.

Segundo Greyce Kelly, tanto homem quanto mulher fica bastante exposto quando vai às ruas trabalhar, mas ela evidencia o fato de a mulher sofrer um pouco mais com essa exposição. “Por ser mulher, você fica mais suscetível e exposta, às vezes, as minhas amigas por serem mulheres e LGBT, ainda mais”. Além da luta por mais espaço na arte urbana, Big Bacon relata que já escutou muito comentário machista nesse meio. “Um dos últimos que eu fiz, foi o da Marielle Franco. Fiz numa avenida movimentadíssima aqui de Mauá, [...] ouvi os comentários mais absurdos possíveis, nem vale repetir, então sim, sofro com comentários machistas. Conforme vai passando os anos devia dar uma melhorada, mas infelizmente essa evolução da gente ser menos atacada é passo a passo”.

Big Bacon e seu grafite da Marielle Franco. Foto: Arquivo Pessoal/Big Bacon

Mirelle Ruana Moreira, tem 25 anos e mora em Recife, Pernambuco. Começou nas artes há 7 anos, fazendo desenhos com pincéis nas paredes, mas logo depois, um amigo lhe apresentou, a técnica da aerografia. Hoje, Mirelle é conhecida como a Rainha do Grafite em sua cidade. Ela nos conta que a mulher no grafite é mais uma forma de se expressar. “Hoje em dia, temos mais mulheres no grafite e nas artes, e é uma forma de se expressar e mostrar que os direitos são iguais a todos.” A grafiteira ainda acrescenta que, “antigamente diziam que grafite era coisa de homem, mas hoje em dia não tem mais isso. Somos todos iguais, espalhando arte”.

Mirelle, a Rainha do Grafite, usando a técnica da aerografia para grafitar. Foto: Reprodução Instagram

Martiniana Santana, conhecida como Marte Odara, é de Olinda, Pernambuco e sua primeira experiência com o grafite foi em 2019. A grafiteira conta que sofreu violência domestica e abuso pelo ex-companheiro, mas que o grafite a salvou e deu a força necessária que precisava. “O grafite me salvou, porque tudo aquilo que estava dentro de mim e eu não sabia como expressar, expressei por meio do grafite”. Assim como Big Bacon, para ela, a mulher no grafite é sinal de resistência. “A mulher no grafite é a resistência! Somos mulheres, mães, cada uma com sua vivência e história, mas com a cara e coragem de se expressar, de lutar, de resistir por meio dessa ponte que a rua e o grafite nos permitem. São cores e palavras que não calamos!”. Marte nos relata que existem muitas mulheres que sofrem com o preconceito e com o assédio nesse meio. “Eu nunca sofri preconceito por ser mulher e por pintar, mas eu sei que essa é uma realidade que muitas mulheres grafiteiras passam. O pior de tudo é o assédio. Quando estamos pintando e os homens vem com outros interesses, confundem essa nossa liberdade e até nos deixam constrangidas”.

Marte Odara e um de seus trabalhos. Foto: Arquivo Pessoal/Marte Odara

Mesmo com a mulher crescendo cada vez mais no grafite, Big Bacon conta que ainda escuta julgamentos. “Assim como em outros lugares que tem sua maioria homens, as mulheres estão conquistando seus espaços, e no grafite também. Além de ser julgada com “ai, mas ela não tem a técnica X tão aflorada”, “ah, essa menina pinta em látex”, mas oh, a galera não entende que as mulheres tem uma mensagem para passar”. Mirelle também nos fala que às vezes duvidam de seu potencial. “Quando eu saio para grafitar, muitas pessoas ainda duvidam um pouco por ver uma mulher no grafite, mas depois que elas veem o que eu faço, elogiam”. Big Bacon diz que ainda tem que ser incisiva em relação a eventos de arte de rua, que geralmente tem mais homens. “Ainda tem aquele negócio das panelinhas, homem chamar homem pra pintar. [...] Em um evento, de 100 pessoas, 5, 10 são meninas e olhe lá, às vezes, a mulher vai só porque é esposa de outro grafiteiro, saca? Então é mais de a gente conquistar o nosso espaço. A gente ser incisiva, “não, eu tenho meu portfólio, eu sei o que eu tô fazendo e eu vou participar””.

Marte Odara nos fala que a melhor forma da mulher ganhar espaço nesse meio é resistindo. “O lugar da mulher é aonde ela quiser e por mais que alguns homens não queiram aceitar isso, a nossa atitude é a prova de que vamos estar aonde queremos! A melhor forma de buscar um espaço é ocupando e resistindo mesmo. É se aliar as outras mulheres e formar aquele movimento de não vão nos calar”. A grafiteira ainda incentiva: “No começo é difícil porque ficamos inseguras até com as nossas produções, mas daí vamos indo de encontro a nós mesmas e respeitando todo o processo e tempo que precisamos e daí é só deixar fluir”.

A arte do grafite feito por mulheres, nos faz acreditar numa sociedade mais inclusiva e menos machista. Num meio que começou com sua maioria sendo homens, cada vez mais mulheres vem dominando esse mundo das artes urbanas e mostrando suas ideias, culturas, talentos, críticas, etc. Representatividade é tudo! “Nos meus trabalhos, pinto sempre mulheres para buscar representatividade e mostrar que estamos vivas”, diz Odara, que ainda completa dizendo que, “em 1970 aconteceu nas periferias o movimento Hip Hop, esse movimento veio por causa do índice de violência que cresciam contra os pretos e imigrantes. Esse movimento é a dança (break), o grafite e o rap! O Hip Hop é um movimento da rua para TODOS!”.





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